Para chegar no que é o Projeto Dona Odette relembro que, ainda como estudante do Ensino Médio, a carreira jurídica me chamava a atenção por acreditar no potencial do profissional de Direito em gerar transformações de impacto no sistema em que estamos inseridos. De fato, o Direito é uma das principais bases das relações humanas.
No decorrer da minha trajetória profissional, e após anos de dedicação absoluta à carreira jurídica, em dezembro de 2016, com o falecimento da minha avó - Dona Odette - aquilo que eu acreditava quando escolhi o Direito passou a ressoar em mim como uma missão e um propósito.
A passagem da minha avó foi o despertar do Projeto Dona Odette: "Vó, vai descansar, pode deixar que vou continuar com a sua missão por aqui". A partir desse momento passei a ressignificar o meu trabalho, a forma com que ocupava as horas do meu dia e todas as minhas escolhas.
Hoje, após três anos de Projeto Dona Odette, centenas de vidas impactadas e algumas transições profissionais, consigo identificar a importância da coexistência entre essas duas realidades - advocacia empresarial e gestão de entidade do terceiro setor - e que sim, é possível! E ser possível tem a ver com acreditar na união do trabalho e do propósito, e estar profissionalmente em um espaço que te permite ser verdade.
O Projeto
O objetivo era chegar em um local que ainda não tivesse ajuda substancial e que realmente estivesse precisando de apoio. Começamos nosso trabalho pela Casa de Repouso Santa Paula em agosto de 2017, e em outubro do mesmo ano, chegamos na Casa de Cultura Raízes, em Ferraz de Vasconcelos. Em 2018, registramos o nosso Estatuto Social no cartório e a Associação Projeto Dona Odette começou a existir no mundo jurídico.
A partir da realização das nossas ações percebemos que existem diversas iniciativas sociais nas periferias, por meio dos líderes das próprias comunidades, mas com pouco alcance de captação de recursos e crescimento. Entendemos assim, que nosso propósito é facilitar essas iniciativas, atuando com a linha de frente a partir de processos perenes e fortalecendo esses agentes multiplicadores.
No trabalho da Casa de Repouso destacamos: a assessoria na estrutura administrativa, jurídica e contábil; a contratação de serviços essenciais (médico, fisioterapeuta e psicóloga); e a realização de reformas estruturais.
Na Casa de Cultura Raízes atuamos a partir da cocriação, com a liderança da comunidade, de ações sociais, com foco nas diversas situações de vulnerabilidade e, atualmente, nas frentes de:
- Esporte: Time de futebol e grupo de capoeira para crianças e adolescentes;
- Cultura: Biblioteca pública com foco na literatura afro e cultura periférica;
- Mulheres: Meditação, aulas de dança e de atividade física;
- Sustentabilidade: Bazar Comunitário e compostagem.
Os pilares para esses trabalhos envolvem o atendimento da comunidade e desenvolvimento de espaços para trocas sobre temas com violência doméstica e discriminação racial, além da organização de dias de voluntariado, captação de recursos e conexão entre agentes de transformação.
Temos também como foco a contratação de profissionais locais - a ideia é que as próprias ações sociais sejam fontes de geração de emprego. Permitindo assim, que as pessoas das periferias possam trabalhar perto de suas casas melhorando a qualidade de vida e, como consequência potencial a longo prazo, a diminuição de trânsito, poluição e etc.
Como ser advogado facilita todo esse processo?
São inúmeras as questões jurídicas na realidade do terceiro setor, desde aspectos societários e contratuais; o que inclui apoiar a formalização dos projetos sociais nas comunidades, questões trabalhistas e penais. O Direito Tributário é de extrema relevância, envolvendo diversas discussões diante das imunidades, isenções e certificações. Além da questão técnica, o meio jurídico gera oportunidade de conectar pessoas com grande potencial de agregar intelectualmente no desenvolvimento das ações.
Empreendedorismo Social - o momento é agora
Do ponto de vista sistêmico das instituições temos o terceiro setor como ponto de intersecção entre o setor público e privado empresarial, e com uma característica essencial: a dedicação e o propósito a causa social.
Acredito na missão de responsabilidade social dos empresários e da importância disso para equilibrar todo um sistema. Fazer parte pode ser da forma que faz sentido dentro da realidade de cada um: doando, desenvolvendo programas de voluntário, áreas de responsabilidade social, atuação pro bono entre outras.
São inúmeros, hoje, os estudos que comprovam o impacto positivo para as próprias organizações do segundo setor, com equipes mais integradas, captação de clientes e parceiros que são atraídos por estruturas e marcas que carregam a bandeira da responsabilidade social.
Como idealizadora desse projeto, eu reforço o potencial do coletivo, do propósito e do amor em seu sentido mais amplo. O Projeto Dona Odette está apenas no começo e com imensa oportunidade de ser meio para todos aqueles que também querem ser parte desse processo de transformação social. Vamos juntos?